Pesquisar este blog

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Sobre noites sujas

Era cedo, mas ela ainda estava na cama. Talvez nove horas da manhã. Ela não havia dormido por conta de uma festa na piscina que tinha ido na noite anterior.

Sentia o estômago revirar. Sempre que não dormia seu corpo tentava pregar-lhe peças... Ora era enjoo, ora era tontura, ora alguma dor na coluna sem razão. O sono era algo tão irregular em sua vida, mas gostava assim.

Olhou para o seu lado. No travesseiro ainda era possível sentir o cheiro dos cabelos encaracolados da moça que há pouco estava deitada ao seu lado. Fechou os olhos, tentou sentir o cheiro com mais intensidade. Mas - não sabia se acontecia com todos - quanto mais ela tentava perseguir algum cheiro, ele mais desaparecia.

Levantou, escovou os dentes, tomou banho, colocou um vestido claro e saiu da casa da moça dos cabelos encaracolados. Sem comer, não gostava de comer na casa dos outros. O estômago remexe como se tivesse vida própria. O sol estava quente, queimando o topo de sua cabeça.

Pegou um ônibus lotado. Olhou para seu celular. A moça havia mandado uma mensagem de "bom dia", mas ela resolveu não responder.

Desceu no terminal de ônibus. Também estava lotado. Por algum motivo, se sentia suja. Sentira que aquela noite havia sujado sua alma, suas roupas, seus pensamentos. Sentia como se aquele sol estivesse lhe queimando propositalmente. Seus olhos pesavam, suas pernas tremiam, e lembrou-se de uma frase que uma amiga dizia: "Como é vergonhoso voltar pra casa pela manhã, com os saltos nas mãos, maquiagem borrada, cabelos bagunçados. A calçada da vergonha".

Fechou os olhos. Sentiu o cheiro de café pela manhã, o cheiro de pão de queijo de ontem preso dentro de uma estufa, o barulho do ônibus que estacionava a sua frente.

Abriu os olhos. Seus cabelos estavam bagunçados, os saltos estavam em suas mãos, sua maquiagem estava borrada.

Caminhou até uma lanchonete (uma daquelas de metrô) e comprou 10 pães de queijo e um café com leite com os últimos seis reais que haviam em sua carteira. Comeu deliciosamente esperando que aquilo lhe fizesse bem ao estômago.

Não funcionou. Continuava suja.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Talvez, ele tenha se tornado uma outra pessoa aquele dia!

Acho engraçado como o termo "amizade" têm se vulgarizado tanto quanto "eu te amo". Se você parar pra pensar algumas pessoas dizem menos "Bom dia" do que "eu te amo" ou têm amigos.

Confesso, algumas amizades surgem do nada. Outras, você precisa moldar. Outras nunca existiram. Por exemplo, observem o quanto é dificil ouvir a frase "gostariamos que fossemos amigos" depois de um namoro mal sucedido. Uma amizade nunca foi a pretensão deste tipo de relação, então, para criar uma amizade, é preciso recomeçar do zero, com um pensamento diferente. E a falta que faz o namoro.

Você já pensou a falta que faz na vida de um amigo? Já chegou a questionar o que aconteceria se algum dia você, simplesmente, desaparecesse?

Eu tenho a honra de ter bons amigos do meu lado. Amigos que, mesmo que morem longe (Bagunça em Franca, Delmiro em Pirassununga), quando voltam pra fazer uma visita, percebemos que nossa amizade não se diluiu. E os que moram perto (Franco, Guilherme, Thais, Will, Bruno e trocentos outros), a felicidade de saber que mesmo com tanta proximidade, a amizade não "enjoa". Construímos uma família juntos, e cada membro, sim, faz falta.

- - - 

Acho engraçado o tempo. Ele demora pra ser, não é? Mas sempre é!

A vida também é outra. O tempo todo precisamos aprender a driblar problemas, esquivar-se de sentimentos ruins, girar para afastar os fantasmas e passar a bola para alguém que se aproxima. Algumas vezes, observa-se olhos distantes, ofuscados, sofridos que se aproximam e, que em meio ao encontro de uma nova família, de novos olhos, começam a brilhar novamente. E o sentimento de ter a necessidade de resgatar alguém de um cotidiano que falhou.

O coração é como um tambor que afasta espíritos!

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

2013, 2014

Eu acho interessante ver como terminamos todos os anos dizendo que foi um bom ou um mal ano, sendo que, bem provavelmente, lembramos apenas dos últimos meses deste.
Eu, por exemplo, lembro apenas dos últimos meses e algumas coisas marcantes que aconteceram este ano. No primeiro semestre, parece que apenas vivi o Carnaval, depois uma temporada de espetáculo, depois minha saída do trabalho e Julho. É, eu não tenho uma memória tão boa assim.
Mas, sinceramente, eu espero que 2014 seja um ano bom! Não um ano feliz, mas um ano bom. Que mania é essa que a gente tem de ficar correndo atrás da felicidade o tempo todo, não é? Vez ou outra, as coisas não serão felizes... Afinal, para que existam os momentos felizes, é importante que exista os dias tristes.

Enfim. Adeus 2013, seja bem vindo 2014.

Eu desejo que todos vocês encontrem bons amigos pra dividir momentos, bons olhos pra se encantar, bons momentos para viver e boas oportunidades pra aproveitar. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O "jovem" grisalho.

Cenário: Balada.

Horário: 00h37
O homem de cabelos grisalhos, viúvo a dois anos, entra na festa acompanhado de seu filho. Sente-se totalmente desajustado naquele lugar. As luzes que brilhavam em sua retina, os graves da música que machucavam seus tímpanos e o terrível cheiro de álcool fazia-o sentir nojo daquele lugar. Mas seu filho achava que o velho deveria "voltar à ativa", e que aquele era o lugar. O pai resolveu-o acompanhar.

Horário: 01h22
O filho do velho já havia o apresentado a todos os amigos. Depois de alguns "hey, você trouxe seu pai!" e outros "que maneiro, cara! É seu pai!", o homem mais velho já estava mais confortável. Arranjou um sofá que havia por lá e se sentou ao lado de um casal que já estava nas preliminares de um sexo eminente. O filho lhe trouxe uma cerveja, depois desapareceu. Ele ficou lá, tomando sua cerveja, observando os jovens.

Horário: 02h02
O homem de cabelos grisalhos já havia tomado três cervejas. Vez ou outra o filho vinha até ele para ver se estava tudo ok, mas nos últimos minutos ele estava atracado com uma garota no fundo da balada. O casal que estava ao seu lado resolveram ir para algum motel, e agora o lugar era ocupado por um garoto bêbado que ria e lhe contava histórias sobre quando havia cheirado cocaína.

Horário: 02h55
O filho voltou para ver se o pai estava ok. O velho já estava em sua quinta cerveja.
- Hey, moleque. E sua garota? – disse o velho.
- Bem, nos pegamos... Mas eu vim aqui.
- Pode sair com ela daqui, se quiser. Eu pego um táxi pra voltar.
- Certeza?
- Certeza.

Horário: 03h20
O velho estava lá. Sozinho. Quase embriagado. Curtindo um pouco mais aquelas luzes malucas, aquelas batidas estranhas e todos dançando a sua volta. Sentia-se muito bem.

Horário: 04h02
Uma garota de vestido vermelho, curto, aproximou-se dele e sentou ao seu lado. Estava visivelmente bêbada, com seus cabelos curtos extremamente bagunçados e uma garrafa de cerveja nas mãos. Encostou no sofá e respirou. Olhou para o homem de cabelos grisalhos, e suspirou.
O homem começou a conversa:
- Noite difícil?
- Está brincando? Está ótima. – respondeu ela, em meio a um soluço.
Ele permaneceu calado.
- Você está sozinho? – disse ela, dando uma boa olhada nele.
- Estou.
- É um senhor muito bonito, sabia?
- Obrigado, mas não me chame assim.
Silêncio.
- Como quer que eu te chame, senhor?
- Que tal "maravilhoso", "príncipe"?
Ela riu.
- Você é bem jovial pra sua idade, senhor.
- E você é bem velha para a sua.
Permaneceram se olhando. Ela encheu a boca de cerveja, engoliu e então, voltou a prestar atenção nele. E sem mais delongas, o beijou.

Horário: 04h10
Se beijaram durante poucos minutos, e então, o velho grisalho parou. E olhou para ela.
Ela não aguentou e perguntou:
- O que foi?
- Você é muito bonita.
- Obrigada. – disse ela, se levantando. – Mas agora eu preciso ir embora. Amanhã eu trabalho e já está me dando sono.
O homem grisalho segurou sua mão.
- Não vá. Sente-se e beba mais um pouco comigo.
- Você adora ver moças como eu no inferno, não é?

- Não. Eu gosto de ver como moças como você fazem pra sair dele.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Do que você gosta?

- Baseado numa história real.

"Alô. Oi, mô. Cheguei. Vou ficar te esperando aqui do lado de fora do cinema, ok? Beijos".
Chiquinho desligou o celular, e encostou em uma das paredes do cinema. Inclusive, uma que havia uma enorme foto do Homem de Ferro lançando seus raios propulsores. Provavelmente o filme que sua namorada assistia estava no final. Daqui uns vinte minutos encontraria com ela e sairiam para comer alguma coisa. Chiquinho ficou pensando no que comeriam, e onde comeriam, e foi em meio a estes pensamentos que um japonês de terno, com cabelo meticulosamente ajeitado com gel, se aproximou dele. E também encostou na parede.

- Boa noite. – disse o japonês.
- Boa noite. – Respondeu Chiquinho.

E o silêncio instaurou-se. Aquele silêncio constrangedor que antecede aquele momento em que você acha que terá de conversar. Mas o japonês foi rápido, e começou uma conversa.

- Vai assistir alguma coisa? – perguntou.
- Não. – silêncio. – E você?
- Não.

Silêncio. Silêncio. Silêncio.

- Eu encostei meu carro ali no estacionamento porque tá na hora do meu rodízio. E tô esperando chegar a hora pra eu poder sair.
- Ah sim. – completou Chiquinho.

Chiquinho começou a imaginar o que aconteceria primeiro. A chegada de sua namorada ou a partida do japonês. E começou a se desesperar. Até que, do nada, a pergunta do asiático veio:

- Do que você gosta?

Chiquinho virou-se para o japonês e percebeu que ele estava numa postura um tanto quanto duvidosa. Ele parecia um Jackie Chan mal desenhado, tentando ser sexy.

- Como assim, do que eu gosto? De filme? De música?

O japonês fez uma pausa, aproximou-se de Chiquinho e perguntou:

- Você gosta de uma safadeza?

Chiquinho pulou no lugar, virou-se para o homem, se afastou, agitou as mãos, balançou a cabeça... Fez tudo ao mesmo tempo. Olhou para a porta do cinema, esperançoso que sua namorada viesse para salvá-lo.

- Não. Não gosto não. – respondeu.
- Claro que gosta! Todo mundo gosta de uma safadeza!

Chiquinho continuou agitado.

- Não. Eu não gosto.

O japonês sorriu, sem acreditar, e diante de tudo isso, ainda propôs:

- O meu carro tá lá, esperando o rodízio. O que acha de irmos lá dentro do carro e nos conhecermos melhor?
- Não, cara. – respondeu Chiquinho.
- Rola uma grana, heim.

Chiquinho não podia acreditar no que estava acontecendo. Mas o japonês continuou...

- Uma grana alta!

Mas o rapaz não podia mais aguentar. E exclamou, bravo:

- NÃO, CARA.

O japonês pareceu contentar-se. Balançou a cabeça decepcionado, virou-se e se despediu. Nos últimos instantes, ainda pediu:

- Então, me passe seu celular.
- NÃO, CARA!

O pequeno japonês confirmou com a cabeça, virou-se e partiu, decepcionado. E foi neste mesmo momento, que a namorada de Chiquinho apareceu sorrindo, parecendo que curtiu bastante o filme. Seu namorado não esperou um instante para lhe contar a história que havia vivido. E entre risos, a namorada de Chiquinho apenas comentou:


- E VOCÊ NEM PERGUNTOU QUANTA GRANA ERA?!

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Amanda e Sofia.

Amanda era uma menina que tinha muitos brinquedos. Ela vivia em um dos bairros mais nobres da cidade de São Paulo com seus pais. Nascera em uma família de classe média alta, uma família extremamente humilde, inteligente e respeitosa.
Aos finais de semana, os pais de Amanda visitavam instituições de caridade, faziam doações para orfanatos, participavam da luta pela igualdade social e discursavam contra as injustiças. Mesmo aqueles que estavam "da ponte pra cá", conheciam a família de Amanda e se encantava. Reviam os seus conceitos e passavam a atentar mais para os seus próprios preconceitos.

Um dia, Amanda conheceu Sofia. Ela era uma menina que estudava na sua escola. Ela tinha muito mais brinquedos do que Amanda já tivera. Mas, mesmo com 8 anos, Amanda não ligava para isto. A menina havia sido muito bem ensinada, e a inveja não era um dos seus aprendizados.

Outro dia, Amanda chamou Sofia para brincar em sua casa. Os pais de Sofia permitiram. Os pais de Amanda permitiram. E com ambas permissões, o encontro aconteceu.

As duas sentaram, como iguais, e brincaram. Sofia levou suas próprias bonecas. Amanda também estava com as suas. A brincadeira durou horas, sem possíveis desavenças, até o momento em que Sofia resolveu espiar dentro de um baú que Amanda tinha no canto de seu quarto. Dentro do baú haviam bonecas que Amanda não brincava há anos! E nem sequer se lembrava da existência delas.

Amanda observou a garota olhar, olhar, olhar. E então, Sofia inclinou-se e pegou uma das bonecas. Olhou para Amanda e perguntou: "Posso brincar com essa?"

Algo aconteceu dentro de Amanda. O seu peito se inflou um pouco, sua voz travou, sua cabeça deu uma pontada no lado direito e tudo que emitiu foi: "Não."

Sofia se assustou. E perguntou: "Você não brinca mais com elas."

Amanda repetiu: "Não."

Sofia não entendeu nada. Mas largou a boneca, e voltou a brincar com Amanda com suas próprias bonecas. A brincadeira fluiu normalmente até o final.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

O que eu acredito.

AMADEU: Você precisa de algo mais do que dois corpos enrolados pra se esquentarem durante a chuva. Você precisa de um temporal que dure anos. Você precisa de uma casa que te proteja da chuva. De um marido que lhe proteja dos trovões. E de um filho que se aperte nos seus braços quando visse o primeiro relâmpago da vida. É nisso que acredito, Silvia.

(Trecho do texto Três Tangos, escrito por Fernando Vieira e Renan Almeida.)