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domingo, 19 de agosto de 2012

As cabeças que pesam.


Há muito tempo atrás eu me dispus a esquecer a minha própria cabeça e sustentar as demais. Subo e desço cabeças muito bem. Cada cabeça, um peso. Cada peso, uma leveza. Às vezes, fico espantado com o que sai e entra na cabeça. Algumas vezes nos leva pra baixo, outras vezes nos dispersa. Mas o peso das cabeças sempre permanece.
Porém, existe um limite. As cabeças nunca são suficientemente leves para que possam voar, nem suficientemente pesadas para que possam afundar. As minhas cabeças mantém um equilíbrio. Aprendi a deixar minhas cabeças numa altura razoável para que durem bastante.
Hoje, uma das minhas cabeças se arrebentou. A primeira cabeça se arrebentou. E por um instante, senti minhas costas mais leves, mas logo a culpa veio e levou isso de mim. A falta que o peso da cabeça proporcionou a culpa logo ocupou.
E hoje eu vivo assim. Como um frustrado, por não saber o que aconteceu com a minha própria cabeça. Sinto como se cada cabeça vivesse uma realidade diferente. E como se, ao simples balanço, uma nova cabeça possa se arrebentar e dar lugar a uma dúvida.
Pois as cabeças podem o tempo todo arrebentar.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A Cidade.

Eu sempre parei pra me olhar. E quando me olho, percebo-me imaturo.
Até quando olho-te, percebo-me imaturo. Talvez seja um auto-boicote. Talvez eu tenha me preocupado demais com a modéstia nos últimos anos que eu nem percebi o quanto essa modéstia, em demasia, me tornou medíocre, a ponto de não perceber as minhas maiores qualidades.
E lá eu vejo. A morada. A grande cidade. Aquela cidade bárbara e cheia de detalhes tão delicados. Sinto-me tentado em me aproximar de suas fronteiras, porém aprendi a ser cauteloso. Não sei se aprendi ou fui obrigado a aprender. Mas sou cauteloso. Sinto que, ao me aproximar desta cidade, eu possa me tornar mais transparente. E que minhas fraquezas e imaturidades sejam ressaltadas. Então, paro defronte a estrada à cidade cheia de detalhes tão delicados, e sorrio, tentando sem sucesso maximizar minha maturidade em assuntos paralelos. Porque é isso que fazemos quando não conhecemos bastante sobre um assunto. Nós mudamos de assunto.

Talvez minha maior imaturidade seja não perceber que o que faz uma pessoa madura é alguém aceitar a condição de imatura.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Eu sou Guarulhos.

Eu não nasci em Guarulhos. Mas faz dez anos que moro aqui. Dez anos é tempo demais quando falamos sobre histórias.
Quando eu cheguei por aqui eu era um garoto desajeitado, gordinho, feio, influenciado pelos filmes e desenhos e, acima de tudo, apavorado pela idéia de ter que morar em outra cidade.
A primeira pessoa que conheci foi o Jeferson. Ele morava no mesmo prédio em que eu morava. Ele nada mais era do que um baixinho folgado, que insistia em me chamar de gordo por onde passava. Porém, ele era a única pessoa que eu conhecia. Durante muito tempo ele continuou me chamando de gordo. Mas depois de dois anos parou. Eu emagreci.
Não sei ao certo quanto tempo depois de conhecer o Jeferson eu conheci a Jéssica. Ela era uma loirinha, magrinha, com olhos tristes e muito inteligente. Ela era ousada. Ela adorava conversar. Já a procurei diversas vezes, em diversas redes sociais e não a encontrei. A última coisa que lembro de ter falado com ela foi sobre as origens dos nomes.

Jéssica: É tão estranho os nomes.
Renan: Que nomes?
Jéssica: Já reparou como "Francisca, Josefa, José, João, Maria..." são todos nomes de gente velha?

Ela me divertia.
Eu também me lembro quando briguei com o Samuel na escola. Ele tem uma irmã. O nome dela é Rebeca. Eles ainda vivem em algum lugar de Guarulhos, não sei onde. O pai do Samuel e da Rebeca é pastor, ou era, não sei. Mas, na época, eu comecei a implicar com Rebeca. E na saída da escola, Samuel apareceu para querer me bater.
Sabe, eu nunca soube brigar. Por isso que aprendi a conversar bem. Porque eu posso não bater bem, mas sei conversar bem.
Samuel não conseguiu me bater. O Jeferson interviu, e apareceu pra me levar pra casa.

Também me lembro quando tive de mudar de escola. Mudei para o M.A.R. Tinha um japonês que também morava no mesmo prédio que eu. Ele já estudava no M.A.R há dois anos. E, resolvi colar nele pra ver se eu me acostumava melhor. Não me acostumei.

Passou tempo. Passou muito tempo, e eu adquiri o hábito de ir pra escola tomando Coca-Cola logo de manhã. Eu era um adolescente retardado, e que gostava muito de refrigerante. Até hoje falam sobre como me conheceram com uma garrafa de coca na mão.

Formei um grupo de teatro na escola. Aproximadamente quatro destes estão no meu grupo de teatro atual.

Na real, desisto.
Se eu pudesse contar as histórias desses dez anos num post, seria muito bom. Mas não dá.
É pouco espaço, são poucas palavras, é muito raso.
Mas não é fácil de descobrir essas histórias. Elas estão marcadas em cada parte do meu corpo.

1 - Apenas peço para que, se por acaso, você for Jéssica. Me procure.
2 - E se você não souber bater, também não fuja.
3 - Daqui há trinta anos, Renan será um nome de velho.


Desculpem-me a confusão deste post. É que ele fala sobre amor.
E não sei falar de amor sem me confundir um bocado.