- Baseado numa história real.
"Alô. Oi, mô. Cheguei. Vou ficar te esperando aqui
do lado de fora do cinema, ok? Beijos".
Chiquinho desligou o celular, e encostou em uma das
paredes do cinema. Inclusive, uma que havia uma enorme foto do Homem de Ferro
lançando seus raios propulsores. Provavelmente o filme que sua namorada
assistia estava no final. Daqui uns vinte minutos encontraria com ela e sairiam
para comer alguma coisa. Chiquinho ficou pensando no que comeriam, e onde
comeriam, e foi em meio a estes pensamentos que um japonês de terno, com cabelo
meticulosamente ajeitado com gel, se aproximou dele. E também encostou na
parede.
- Boa noite. – disse o japonês.
- Boa noite. – Respondeu Chiquinho.
E o silêncio instaurou-se. Aquele silêncio constrangedor que
antecede aquele momento em que você acha que terá de conversar. Mas o japonês
foi rápido, e começou uma conversa.
- Vai assistir alguma coisa? – perguntou.
- Não. – silêncio. – E você?
- Não.
Silêncio. Silêncio. Silêncio.
- Eu encostei meu carro ali no estacionamento porque tá
na hora do meu rodízio. E tô esperando chegar a hora pra eu poder sair.
- Ah sim. – completou Chiquinho.
Chiquinho começou a imaginar o que aconteceria primeiro.
A chegada de sua namorada ou a partida do japonês. E começou a se desesperar.
Até que, do nada, a pergunta do asiático veio:
- Do que você gosta?
Chiquinho virou-se para o japonês e percebeu que ele
estava numa postura um tanto quanto duvidosa. Ele parecia um Jackie Chan mal
desenhado, tentando ser sexy.
- Como assim, do que eu gosto? De filme? De música?
O japonês fez uma pausa, aproximou-se de Chiquinho e
perguntou:
- Você gosta de uma safadeza?
Chiquinho pulou no lugar, virou-se para o homem, se
afastou, agitou as mãos, balançou a cabeça... Fez tudo ao mesmo tempo. Olhou
para a porta do cinema, esperançoso que sua namorada viesse para salvá-lo.
- Não. Não gosto não. – respondeu.
- Claro que gosta! Todo mundo gosta de uma safadeza!
Chiquinho continuou agitado.
- Não. Eu não gosto.
O japonês sorriu, sem acreditar, e diante de tudo isso,
ainda propôs:
- O meu carro tá lá, esperando o rodízio. O que acha de
irmos lá dentro do carro e nos conhecermos melhor?
- Não, cara. – respondeu Chiquinho.
- Rola uma grana, heim.
Chiquinho não podia acreditar no que estava acontecendo.
Mas o japonês continuou...
- Uma grana alta!
Mas o rapaz não podia mais aguentar. E exclamou, bravo:
- NÃO, CARA.
O japonês pareceu contentar-se. Balançou a cabeça
decepcionado, virou-se e se despediu. Nos últimos instantes, ainda pediu:
- Então, me passe seu celular.
- NÃO, CARA!
O pequeno japonês confirmou com a cabeça, virou-se e partiu,
decepcionado. E foi neste mesmo momento, que a namorada de Chiquinho apareceu sorrindo,
parecendo que curtiu bastante o filme. Seu namorado não esperou um instante para
lhe contar a história que havia vivido. E entre risos, a namorada de Chiquinho
apenas comentou:
- E VOCÊ NEM PERGUNTOU QUANTA GRANA ERA?!